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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Caminhos

Marcamos um almoço naquele dia, já fazia um tempo que queríamos colocar o papo em dia. Eu ainda trabalhava no mesmo banco onde nos conhecemos anos atrás; ela, enlouquecendo há alguns meses num escritório. Contei que andava cheia de dúvidas e começando a pensar em sair. Ela contou que a vida no escritório era bem intensa, mas estava curtindo o trabalho, as pessoas e as perspectivas. Disse que eu deveria pensar em novos desafios. De volta ao escritório, ela comentou com um colega que tínhamos almoçado, ele disse que não nos conhecíamos pessoalmente mas trabalhamos numa mesma operação, ela comentou que eu talvez saísse do banco, ele pediu para eu enviar o currículo. Marcaram uma entrevista naquela semana. Fui bem despreparada, a verdade é que não sabia o que queria. Indira, você tem bastante experiência em banco, por que mudar agora para um escritório? Então, gostaria mesmo de conversar. Pausa. Não sei bem se quero mudar. Silêncio absoluto. Desnecessário dizer, saí de lá sem esperanças e fui atrás de vinho e colo naquela noite. Pois bem, no dia seguinte, a secretária liga para marcar uma nova entrevista, desta vez com um sócio diferente. Acho que é engano. Ela, bastante simpática, riu e agendamos. Minha chance para consertar qualquer má impressão, pensei. Enquanto dirigia para lá, tocava Queen e decidi que tinha que decidir. Você é uma mulher ou o quê? Não, não vale mesmo a pena mudar para escritório. Ainda mais escritório grande, não tenho nem perfil pra isso. Decidi, melhor não. Mas aí o papo fluiu. Ele tinha acabado de voltar para o Brasil: estou montando uma equipe, mercado de capitais e M&A, preciso de pessoas que se comprometam, dispostas a entrar no ritmo, blá blá blá, o que você acha? Sim, eu quero. (Parênteses para dizer que, passados alguns anos, ele se tornou um grande amigo, destes super queridos – e destes que confessam que, desta entrevista, só lembra mesmo de ter pedido para eu falar um pouco da minha experiência e, após me assistir falando sem pausas por uma eternidade, resolveu me contratar só pra me fazer parar de falar! Fecha parênteses.). Bom, e foi assim que eu mudei de novo. Surpreendentemente, imprevisivelmente e contrariamente à decisão que eu tinha acabado de tomar enquanto cantarolava “Don’t stop me now”. Dali viriam sete anos cheios de amadurecimento, dores e prazeres. Muita vida mesmo.


Planejar a vida minuciosamente e nos mínimos detalhes pode ser em vão. Sem entrar na discussão de religião, astrologia ou “você acredita em destino?”, acho que, muitas vezes, a gente entra em caminhos sem saber explicar os reais motivos e, quase nunca, o que vamos encontrar pela frente poderia ser programado e antecipado. Os mais racionais fazem tabelas no excel e analisam previsões; os mais sensitivos buscam inspiração de dentro. Mas, no final das contas, a gente não consegue explicar muitos dos por quês dos rumos que nossa vida tomou até hoje. E vamos continuar sem conseguir achar resposta para as rotas que vêm pela frente. Minha conclusão é a mesma que dividi num outro texto, partindo de diferentes pressupostos: talvez mais valha estar presente de verdade, viver genuinamente, encarar de frente as situações, sair do muro e tomar decisões quando chega a hora (ainda que no minuto seguinte a gente mude de ideia, sempre dá pra mudar), porque assim abrimos espaço para que o resto aconteça. E se dermos tempo ao tempo, as coisas acabam se ajeitando. Sejam caminhos novos, sejam novas saídas para caminhos antigos, sejam pontes que nos conectam a caminhos paralelos. E se concordamos que o universo é tão imenso, que podemos ser flexíveis e que somos capazes de nos reinventar, vamos dormir tranquilos: as possibilidades são mesmo infinitas.

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