Quase seis meses se passaram desde
que a nova fase oficialmente começou. Quando a vida se apresenta de forma
intensa, os dias e noites são mais longos, parece caber 1 ano em 1 hora. E
assim fui me acostumando, mais uma vez, a me perder e a me deixar levar nesta
diferente noção de tempo. Pela primeira vez desde então, estou curtindo este
espaço para sentir um pouquinho de tudo isso que passou e que continua
pipocando. Um dia, eu resolvi mudar. A ideia de tentar coisas diferentes era
recorrente, mas parecia cada vez mais complicado abrir mão de todo o resto que
foi se acumulando ao longo dos anos. O retrato era, de fato, bonito: carreira,
salário, perspectivas e, acima de tudo, o aparente conforto de já ter cruzado
algumas barreiras, ter chegado naquele ponto em que a gente não precisa mais
dar explicações. Afinal, eu parecia saber exatamente o que pretendia dali pra
frente. A gente trabalha exaustivamente, faz uma série de concessões, toma
decisões, engole todos os sapos, conquista mais espaços e, um dia, “chegamos
lá”. Novos desafios ainda havia por vir, claro, eles sempre existem. Mas já era
mais fácil (ou menos complicado) continuar no fluxo deste processo que já tinha
lá suas bases. Mas aí é que as coisas começaram a pegar. Sem ignorar a dimensão
de tudo o que havia ao meu redor e também sem diminuir a relevância de qualquer
conquista, comecei a sentir com mais frequência uma porção de vazios naquela
rotina. Acredito que a rotina em si não tenha se tornado diferente – eu é que
estava mudando. Mais uma vez. E foi assim que tudo terminou e começou. Por
meses, aproveitava todos os tempos livres para ler, fuçar na internet,
refletir, brincar de imaginar várias vidas possíveis, caminhos que eu gostaria
de experimentar. No começo, tentei não me preocupar com questões mais práticas,
do tipo, como vou bancar isso? Eu sabia que esta coisa de fazer grandes
mudanças era muito bacana mas quase sempre envolvia um patrocínio, um suporte
financeiro que eu não teria. Mas continuei sonhando alto e deixando o
sentimento crescer todos os dias. A ideia toda foi tomando forma e aqueles
vazios da rotina foram sendo substituídos por projetos que inspiravam as noites
não dormidas. E a partir daí, tudo aconteceu rápido. Talvez o maior desafio
tenha sido assumir que eu tinha entrado num processo que não tinha mais volta.
Eu não queria voltar. E continuar significava encarar os fatos, encontrar a
melhor forma de contar para meus pais, minha família, os amigos, pedir
demissão. Foi uma mistura de medo e excitação. E, no final, um alívio. Respirar
fundo, cuidar das milhares de questões burocráticas e, enfim, chegar de mala,
cuia e promessas de novos dias. O cenário, Nova Iorque, era o mesmo que
magicamente vestiu como luva há uns anos atrás, mas agora era necessário
descobrir como encaixar ali uma vida inteiramente nova. Entre risos, choros,
dores, medo e empolgação, vivi um semestre de grandes desafios e descobertas
que pareciam adormecidas e que foram despertando aos pouquinhos. Ainda preciso
chegar no ponto do curso que estou fazendo na Parsons, que por si só isso já
valeria mil histórias! Mas o que consigo dizer por enquanto, tentando não cair
no cliché, é que não importa em que parte do mundo estamos, o que fazemos, o
que planejamos. O que realmente vale a pena é tentarmos encontrar, dentro de
nossas próprias circunstâncias, as condições mais favoráveis para que nossos
momentos sejam cada vez mais vividos de coração. Plenamente e de verdade.
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